Coincidência

Hoje sei que não adentro em um campo de consenso. Há defensores vorazes de cada lado, e estou aqui no meio defendendo o mais absurdo. O ser humano esclarecido e bem resolvido gosta de ter as rédeas da própria vida, é o senhor de suas escolhas. Há quem, também esclarecido, agradeça a muitas de suas bençãos como obras do destino.
Meu decreto talvez passe um pouco longe de tudo isso. A gente fica aqui no meio, bem calado. É que eu acredito na obra do acaso. Confesso, de canto de olho, que gosto de fazer minhas escolhas e responder por elas, sem botar sequer um dedo no destino. Mas convenhamos que a toda hora somos confrontados com a coincidência. Haverá quem, exaltado, se levante de sua cadeira bradando que a obra, na verdade é do destino. Eu, tímida aqui, contesto.
De que adiantaria a gente ficar dias e dias debruçado em um problema, buscando o melhor caminho, se o final quem vai determinar vai ser o destino?
Antes que me apedrejem, levanto meu escudo para cada lado. Somos sim, soberanos sobre nossas escolhas, não há dúvidas. Mas o acaso sempre encaixa seus pés em nossa estrada. Acaso esse, que depende das escolhas para ser atingido. E aí? Há sim, pequenas escolhas que esbarram em grandes coincidências, e grandes escolhas que passam por pequenas coincidências. Que podem ser tão pequenas, mas tão importantes.
A verdade é que não se pode atribuir um significado cósmico como o destino para um simples evento na terra. Coincidência. Isso é tudo. Nada mais que mera coincidência.